sábado, 24 de setembro de 2016

ORAÇÃO DO ÓCIO CRIATIVO

Livrai-me de tudo que me impede de escrever.
Livrai-me de tudo que freia o fluir da criatividade.
Livra-me da procrastinação, da preguiça sem limites, da cegueira, do abuso psicológico, da alienação, da obrigação capitalista de ser feliz.
Livrai-me, sobretudo, de ser um ser comum, de ser vazio de ideias. De ser covarde em expô-las quando elas insistem em suar através da pele.
Livre-me de não conhecer todas as expressões artísticas mais singelas e mais extraordinárias, de todos os lugares do mundo, e de todos os tempos da história da humanidade, e além dela.
(Ou simplesmente me livre de não conhecer aquelas que tem a missão de me transformar.)
Livrai-me do medo da folha em branco, da sala vazia, do fim da estrada e de não ter respostas.
Livrai-me de não me permitir conversas calorosas e intermináveis em cantos da cidade, acompanhadas de uma boa dose de cansaço, ou uma taça de vinho. (Sim, pode ser um copo de cerveja. Ou outra coisa, ou até nada. É só pela conversa mesmo.)
Livrai-me de não conhecer pessoas novas, lugares novos, sentimentos novos, novas formas de pensar.
Livrai-me de não me emocionar com o velho, de apagar memórias dolorosas e doloridas, de fugir da dor, e de banalizar.
Livrai-me de banalizar qualquer coisa.
Livrai-me de achar que posso julgar qualquer um, ou qualquer coisa.
Livra-me, enfim, de mim mesma, e deixai fluir em mim o rio da vida. Deixa fluir em mim o seu amor sem fim.
Pois de Ti vem toda força, toda criatividade, toda coragem, todo reflexo, toda tinta, e toda inspiração.
Grata sou ao Autor da Vida. Essa história toda escrita, desenhada, pintada, construída, erguida, encaixada (...) performada.
Grata ao grande artista, Criador do Universo.
Amém.

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