terça-feira, 28 de março de 2017

Diário GforC - 3ª Semana

Diário GforC - Grupo de formação em Circo/Circocan
Florianópolis/SC

3ª Semana

20 a 23 de março


Segundas-feiras são sempre difíceis, o corpo vem mal acostumado do final de semana, então se recusa a entrar no ritmo facilmente. Até o prof Adilso, de criação, disse que não estávamos muito presentes nas dinâmicas. A emoção é cúmplice do corpo molenga nesse dia, daí luto sozinha com aquilo que me resta, a razão, pra conseguir fazer o meu melhor. Mesmo um pouco fora do ritmo, consegui manter o foco nos exercícios, e até um mortalzinho no minitramp eu fiz. Foi divertido! Pela noite, terminei a série que estava assistindo (LOVE - Netflix), e até agora não tenho uma nova série favorita pra preencher o tempo.

Na terça as coisas melhoraram bastante, com o corpo mais aquecido, e a mente mais adaptada. Estávamos todos muito mais presentes, o que fez com que nos empenhássemos muito nas aulas de movimentação e de jogos teatrais. Na movimentação, experimentamos um exercício espetacular que propunha a comunicação com um parceiro através da movimentação do corpo apenas, sem falas. Fiz esse exercício com a Belinha, repetimos várias vezes, e posso jurar que até dava pra saber sobre o que estávamos conversando. Foi incrível. Nos jogos teatrais nos divertimos muito, fazendo exercícios de memorização com histórias/palavras e gestos, e terminando por apresentar o resultado da brincadeira em forma de cena musical.

Na quarta-feira de manhã, levei a Amanda pra conhecer a feirinha da UFSC, enquanto eu fui fazer a troca de óleo do carro, e a fotodepilação. Voltamos a tempo de almoçar e ir pra aula. Era aniversário do Pedro, e tínhamos pensado em fazer várias coisas pra ele, mas com o tempo escasso e o cansaço de todo mundo, acabamos por apenas abraçá-lo e desejar o melhor que a vida poderia oferecer a ele. Fizemos várias atividades com segunda altura, e até caminhamos sobre diferentes portôs em fila. Sim, isso me inclui, pasme. Fui de um jeito bem desengonçado, mas fui, caminhei nas alturas. Durante a orientação pedagógica, falamos sobre os sentimentos que estavam rolando desde o início do GforC até agora. Fomos convidados a expressar esses sentimentos através do trecho de uma música ou por um gesto. A roda de conversa funcionou de forma terapêutica. Todos compartilhamos sentimentos de medo, superação, fadiga, sonhos, etc., e, como bem sei, isso fez com que pudéssemos lidar muito melhor com isso do que lidaríamos sozinhos. Foi de extrema importância. A noite fomos todos comemorar o aniversário do Pedro em uma creperia, em Jurerê. Eu jantei em casa pra economizar, mas assim que tiver a oportunidade vou voltar pra experimentar os crepes, que pareciam maravilhosos.

Na quinta foi nossa folga, por ser aniversário de Floripa, 344 anos, se não me engano. Usufruindo disso, acordei bem tarde, fiz almoço, e me arrumei bem vagarosamente pra ir com a Helen no trapiche da Beira Mar Norte, ver o Bochecha cantar os funks da minha época. Ficamos pouco tempo, e fomos encontrar nossos amigos pra dar um passeio na Lagoa. Lagoa estava vazia, mas nos divertimos muito, aproveitando a companhia uns dos outros. Comemos no mesmo Foodpark que fomos da outra vez, e depois fomos tomar café no Café Cultura (http://cafeculturabrasil.com/). Que lugar maravilhoso, me apaixonei! Fui atendida com gentileza e simpatia, tudo estava muito saboroso, e o ambiente é super agradável. Tomei um Caramoccha ou Carameloccha, algo assim, acompanhado de uma torta de maçã deliciosos. Depois disso, viemos rumo aos nossos lares, mas decidimos ver o mar antes de dormir. Como povo circense é povo circense, além de ficarem se pendurando nas barras no caminho, tiraram as roupas e tomaram banho de mar. Eu não encarei o frio, mas roubar-lhes as roupas por uma fração de tempo, foi divertido. Meu carro sofre até hoje com as toneladas de areia que deixaram no carpete.

Por enquanto, é só. A escrita pode ter ficado mais prática, tanto porque percebi que as outras estavam muito extensas, quanto por eu estar um pouco sonolenta devido ao relaxante muscular que tive que tomar. Ainda assim, espero que continue agradável. See you later, alligator.









domingo, 19 de março de 2017

Diário GforC - 2ª semana

Diário GforC - Grupo de formação em Circo/Circocan
Florianópolis/SC

2ª Semana

11 a 19 de março

Pra falar a verdade, sobre essa semana tenho menos assunto, já que começamos a entrar em uma rotina. Começo escrevendo que fiquei felicíssima com a repercussão do primeiro relato. Não esperava, pois fazia tempo que não escrevia, e isso me incentivou bastante em uma das coisas que mais amo fazer, que é escrever. Final de semana passado, pra variar, fiquei em casa, escrevendo. Aliás, até hoje ainda não fui à praia, desde que estou morando aqui. Para o desespero dos meus conterrâneos, eu não sou a maior fã de praia. Gosto da imensidão do mar, do vento, da liberdade, mas não sou de ficar deitada, pegando sol e comendo milho cozido o dia inteiro não. Gosto da praia mais como contemplação. O que quero mesmo é fazer as trilhas da ilha, e participar dos eventos culturais daqui. Enfim, no sábado passei o dia morgada, escrevendo, e a noite sai com o pessoal da casa, mais alguns colegas, para a Lagoa. Ficamos em um foodtruck onde tinha um bowl de skate, e eu achei isso incrível, nunca tinha visto um, a não ser na televisão. Enquanto não estava comendo os sushis mais baratos da minha vida (e deliciosos, por sinal), estava apreciando os movimentos dos skatistas na pista. Mas, no geral, não sei muito como agir na noite, nem onde pôr as mãos, o que falar, como me comportar. Pareço uma pata perdida e pelada. Não me julgo por isso, prefiro o dia. Gosto de correr, brincar, jogar, ouvir, de me sentir a vontade, mas definitivamente, na noite me sinto perdida. Por esse motivo, quando todos quiseram estender o passeio, eu já bati em retirada. Acabou que o pessoal que estava comigo também disse que estava muito cansado e fomos todos pra casa. Antes disso, paramos em um mirante, do qual pudemos apreciar o espetáculo de luzes da Lagoa da Conceição. Chegando em casa, como estava de TPM, me permiti um brigadeiro e um filme melancólico. Não demorei pra cochilar em meio ao filme.

No domingo de manhã fui à igreja com a Pri. Nos encontramos no meio do caminho e fomos parar no galpão perto da UFSC, onde funciona a FHOP - Floripa House of Praying. Gostei muito do culto, o louvor foi um momento mágico, bem emocional, fiz uma festa pra Deus no meu coração. O pastor é um canadense, ex-jocumeiro, que entendeu o chamado de Deus para abrir uma sede da igreja do Canadá, aqui em Floripa. Se quiser saber mais, aqui vai o site: https://fhop.com/. Me surpreendeu o simples fato de que há um intervalo entre louvor e pregação, onde você pode usar o banheiro, tomar água ou um cafézinho, e são servidas balinhas. Me senti num lugar super acolhedor. Quem pregou foi um convidado inteligentíssimo, que passou por vários filósofos e ideias de vida de diferentes influenciadores, pra chegar no ponto em que queria. Confesso que não me lembro mais o assunto, mas fiquei surpresa com a inteligência dele. Só quando cheguei em casa e pesquisei sobre a igreja, é que vi que ela é super famosinha, de onde surgiu a talentosa Laura Souguellis. Terminando o culto, fomos almoçar no Shopping Iguatemi. Quando entramos, estava um Sol lindo, através do qual podíamos admirar a paisagem do mangue enorme que tem atrás do shopping. Comemos pizza, conversamos bastante, e depois passamos no mercado, pra comprar alguma coisinha e não ter que pagar o estacionamento. Achei potinhos de R$1,99, AMO POTINHOS DE R$1,99! Só então percebemos a chuva que estava lá fora. Voltando pra casa e olhando as árvores caídas, gelo na pista, trânsito parado, foi que me dei conta da tempestade desse domingo. Depois até o meu pai compartilhou um vídeo do que havia acontecido. Bom, estávamos protegidas.

Segunda e terça-feira foram dias difíceis, por estar nos meus dias de menina, os treinos ficam mais complicados, porque a disposição mental não é a mesma. Treinei os dois dias com lágrimas nos olhos, errando e repetindo coisas na garra, lembrando sempre do porque estou aqui e de como sou privilegiada. Aliás, pausa pra um aprendizado que tive enquanto fazia o Caminho de Santiago. Em um dos dias caminhando, eu estava fadigada, cansada, com saudades, psicologicamente chateada, quando parei, atirei minha mochila na grama, deitei e chorei como uma criança, me perguntando porque diabos eu estava fazendo aquela loucura de caminhar quase 30km por dia, num frio de -9º, tão longe de casa. Foi então que Deus me trouxe à memória o motivo de eu ter iniciado aquela caminhada. Vocês vão ficar na curiosidade, outro dia escrevo sobre o meu motivo. Mas o importante dessa história, é que você precisa saber muito bem por que iniciou algo, pra ter forças pra caminhar a cada dia. O porque você começou me parece mais importante até do que onde você quer chegar. Pra mim, não importava chegar à Santiago, mas viver ao máximo aquela experiência maluca que estava tendo a oportunidade de viver. E eu sabia bem o porque havia começado, lembrar disso me deu forças pra pegar minha mochila denovo, e voltar a caminhar. Eu era capaz de tudo, eu sou capaz de tudo. E não são apenas frases motivacionais, é a verdade. Foi com esse espírito e lembrando desse aprendizado, que treinei, dando o meu melhor, mesmo com lágrimas nos olhos e a estrutura psicológica enfraquecida.

Além do ciclo feminino, havia outra coisa que estava mexendo com as minhas emoções, o fato de que eu havia decidido sair da casa onde estava, para morar só. E o que tem de errado nisso? Nada, é uma escolha, simples assim. Mas o que tem de curioso é que eu vim pra Floripa pensando no quanto é difícil conviver com várias pessoas diferentes em uma casa, e o quanto isso se torna ainda mais difícil quando se tem uma personalidade tão forte quanto a minha. E o quanto eu estava cansada de ter que enfrentar isso, e por isso já passei a procurar um apê pra morar sozinha. Mas no momento da decisão eu percebi o quanto a realidade estava se mostrando diferente, o quanto as pessoas com quem eu estava convivendo fizeram essa experiencia parecer tão fácil, estando dispostos e abertos. O quanto me senti amada, respeitada, acolhida, na casa com a Vic, o Bruno e a Helen. O quanto eram gostosas as conversas na cama, antes de cochilar, que eu e a Helen tínhamos. O espaço compartilhado e respeitoso que criamos naquela casa, a rotina vegetariana, as trocas de ideias, de videos, de sabores, de cheiros, sempre com tanto respeito e, ao mesmo tempo, liberdade. Acabou que fiquei com uma dúvida enorme na cabeça sobre o que eu queria fazer em relação a isso. E ao final, decidi que iria mesmo me mudar. (Uai?!) Não por não conseguir conviver em comunidade, pois mais uma vez aprendi que tudo é possível, a gente aprende e se adapta a qualquer situação que nos propomos, e, de quebra, muitas vezes somos surpreendidos com as pessoas maravilhosas que cruzam o nosso caminho. Mas por entender que, dentro das minhas possibilidades, esse é meu estilo de vida, eu gosto de estar só, de ter meu tempo meu espaço. Me sinto só, mas não no sentido da solidão. Amo estar acompanhada, rir, compartilhar, mas, como todo artista que tem em seu âmago, uma alma angustiada, de onde vem sua criatividade, aqui estou eu, na minha solitude. Me respeitei enquanto um ser que cabe melhor nesse estilo de vida solitário, mesmo sabendo que posso estar onde e com quem eu assim desejar. Gratidão à Vic, Bruno e Helen, por serem canal do meu autoconhecimento e, porque não, da minha felicidade.

Na quarta-feira, as coisas começaram a melhorar. Teve treino de força física, que é um treino insano, que envolve três séries de 12 repetições de 8/10 exercícios, como push ups, pull ups, leg lifts, dips, subida controlada no tecido, canivete, extensão de tronco e de pernas, etc. O massa desse treino é que o nosso professor Sugawara preparou um treino específico para cada aluno, de acordo com seu nível de força, habilidade, correção de movimentos, etc. Nos enviou planilhas com a execução correta de cada exercício, para acompanharmos. Pensa em um curso planejado nos mínimos detalhes?! Estou surpresa com essa equipe! Não consegui chegar ao final de todas as séries no tempo limite, mas ganhei uma puta vontade de vomitar. No entando, vocês vão ver que a gente vai aprendendo. Repetimos o mesmo treino na sexta, com outra dupla, corrigindo algumas coisas, como não beber tanta água e não descansar tanto entre os exercícios. Fui com mais vontade, e graças a isso, e ao trabalho em equipe, dessa vez, todos completamos as três séries dentro do tempo previsto. Todo dia eu me vejo superando limites. E entendendo que meu limite não é nem de longe aquele que eu imaginava, ou onde chega minha fadiga. Eu posso ir muito além da  minha fadiga, e tenho visto que meu corpo funciona de acordo com a luz que minha mente dá. Ela controla o limite do meu corpo. Claro que, fisicamente falando, existem outros fatores e outros limites, mas no geral, até onde eu consigo chegar tem muito mais a ver com o meu psicológico do que com o meu corpo, de fato. Quando você se fadiga, ainda há muitos passos que você pode dar. O lance é ultrapassar os limites da mente.

Ainda na quarta feira tivemos, no projeto pedagógico, algumas dinâmicas sobre trabalho em grupo. Tenho que destacar novamente a importância dessa parte da formação. Trabalhamos fatores essenciais ao nosso crescimento enquanto grupo, identificamos nossos pensamentos, dificuldades e potenciais durante as conversas e dinâmicas, e, sem ao menos perceber, nos sentimos muito mais leves e prontos, colocando em prática, naturalmente, aquilo que dinamizamos. Usamos uma corda, na qual cada pessoa do grupo se segurava com as duas mãos, deixando-se pesar para trás e, assim, experimentamos a nossa codependência, a influência das nossas atitudes sobre a andamento do grupo. Foi ótimo, fizemos reflexões riquíssimas, e tudo foi, novamente, iniciado a partir de uma poesia (não poderia ser mais feliz). Nos conhecemos a partir dos nossos encontros, a partir do outro.

"Nada posso oferecer que não exista em você mesmo
Não posso abrir-lhe outro mundo
além daquele que há em sua própria alma.
Nada posso lhe dar, a não ser a oportunidade, o impulso, a chave.
Eu o ajudarei a tornar visível o seu próprio mundo, e isto é tudo."
(Hermann Hesse)

A poesia dispensa explicações. Essa semana ainda recebi do meu querido amigo Léo, pastor no Rio, a seguinte frase: "Ninguém é alguém sem um outro alguém." (Thiago Rodrigo), que veio a somar na reflexão do projeto pedagógico. Por favor, não confunda isso com dependência romântica. Não vou nem dar bola. Ainda na quarta, fui em um pequeno grupo de oração na UFSC, com a minha amiga Pri. Foi um momento super gostoso, falamos sobre nos relacionar de fato com Deus, como nosso pai e amigo, e não entendê-Lo como algum Rei soberano, sádico e distante. Agora já perdi um pouco a ordem das coisas, mas também tivemos reuniões sobre a possibilidade de outras pessoas se mudarem da casa, onde me surpreendi mais ainda com o caráter das pessoas com quem estamos lidando. Marcelo, Cláudia e Pedro se mostraram pessoas interessadíssimas em fazer o bem, sem olhar a quem, e sem esperar elogios ou recompensa. Pessoas essencialmente boas. Faz tanto tempo que não encontro gente assim, me sinto felicíssima por encontrá-los e estar convivendo e aprendendo com eles. Mesmo que eles não esperem por isso, deixo meu elogio e gratidão ao coração e disponibilidade dos três, principalmente, mas também de toda a equipe, Nick, Suga, Adilson, Samantha, etc., que nos acolheu como parte de uma grande família, que de fato, torcem pelo nosso crescimento, pelo nosso bem, com quem podemos contar de verdade!

Bom, nos treinos de acrobacias, continuo me revezando entre portô e volante, e tenho aprendido muito, corrigido minimamente cada movimento, conhecendo mais sobre o meu corpo, sincronia com os colegas, eixo, confiança, etc. Essa semana também tivemos flexibilidade, aula que eu estava morrendo de saudades, muito treino de trampolim e mini-tramp, criação e movimentação. No Open Gym (momento em que o ginásio fica aberto para nossos treinos pessoais) de sexta-feira, experimentei um pouquinho de cada coisa que meus colegas propunham, duo trapézio, acrobacias, lira, mastro chinês... Ficamos, eu, Helen e Édio, para a aula de acrobacias de solo, que é a aula que eu mais gosto na semana, onde fizemos várias figuras de portagem e movimentação em duplas. Ao final dessa aula, estava sem nenhuma energia e morrendo de fome. Passamos no mercado e compramos pizzas. Belinha, Felipe (GforC 2016, membro da equipe de voôs) e Gabriel foram lá pra casa, onde comemos, tomamos caipirinhas denovo, e comemos brigadeiro de limão. Além disso, ficamos rindo, assistindo os vídeos de audição de cada um de nossos colegas. Foi um tempo de qualidade, e uma despedida sutil e marcante da minha passagem pela casa. Obrigada, galera! Pizza, caipirinhas, risadas e brigadeiro! Combinação perfeita!

Sábado pela manhã fiz minhas malas, almocei, me despedi de meus amigos e acolhedores com abraços longos e olhos marejados, e parti pra minha nova casinha. O Patrick, administrador aqui do Las Rocas, me recebeu também com muita simpatia e prestatividade. Me ajudou a levar as coisas pra cima, já que moro no quarto andar, então são quatro jogos de escadas pra subir as coisas (mais um treininho diário). Terminei de subir as coisas, respirei e morguei até umas 17hs, quando fui no mercado pra uma comprinha emergencial, já que a grana ficou bem curta agora. A noite fui ao Showcase no Circocan, e foi maravilhoso. Meus colegas Isa, Vic, Gabriel, e Mayla, arrasaram, com apresentações de lira, tecido, música, e tecido gota. Além disso, veteranos e professores arrasaram nas mágicas - Diogo Alvares -, e num misto de lira, acro e dança maravilhoso, além da corda lisa - Nick e Duh. (Amigos circenses, não é isto um sonho?!) Acabando, vim pra casa, de onde vos escrevo, e acabei por organizar todas as minhas coisas antes de dormir, acompanhada de uma Bud bem gelada. Ao final, estava satisfeita e feliz! Organizar minhas coisas sempre me faz um bem danado.

Tinha planos de ir à praia no domingo, mas acho que só fiz esses planos porque sabia que ia amanhecer friozinho. Esperei cair a chuva pra me convencer de que não dava pra sair. Afinal, nada melhor que um domingo frio com bebidas quentes e a minha casinha. Também estudei espanhol, enviei alguns interesses em trabalhos pontuais pra hostels, assisti mais dois episódios de Love na Netflix, e pesquisei movimentos cristãos pra conhecer por aqui. Assim foi mais um dia de reposição de energias. Acalmem-se, pois não vai ser assim sempre. Logo logo vou às trilhas, praias, barzinhos, etc, e vos escrevo aqui. Por enquanto, muitas adaptações. A noite, o pastor Tim e sua esposa Marta, indicações do Marcos Botelho pra eu conhecer, vieram me buscar em casa, para irmos à igreja que eles frequentam e são pastores auxiliares. A igreja se chama Cristo em Mim, ou Igreja Presbiteriana Independente do Estreito (http://www.cristoemmim.com/). O culto foi maravilhoso, fui muito bem recebida, com muitos abraços e olhares amorosos, tiveram músicas mais antigas, que me traziam várias emoções, e uma pregação incrível da Nicole (https://casasemlixo.com/), baseada em Gênesis, voltada à conscientização do papel da igreja em relação à proteção ambiental, e o amor de Deus para com a natureza e os animais. Mas o mais legal da noite foram as inúmeras conversas com o Tim e a Marta. Tim é pastor e teólogo, Marta vem de uma família musical. Tim foi professor do Marcos Botelho no seminário, Marta é irmã do Guilherme Kerr, músico muito conceituado na cena da música brasileira cristã. Os dois fazem a dieta paleolítica por questões de saúde, mas resolveram me levar pra comer uma pizza maravilhosa em um lugar de muito bom gosto na Beira Mar Norte. Ele, estadunidense, ela, de Campinas. Os dois tem três filhos. Ele surfa, e ela canta. Ele gosta de provolone, e ela de parmesão. São apenas alguns detalhes de toda uma história que eles compartilharam comigo, enquanto eu também compartilhava a minha, e eles ouviam, curiosos. Falamos sobre muita coisa, e eu me senti muito à vontade entre os dois. Cresço e me descubro a cada encontro. Agradeço a Deus por mais esse!

Bom, no meio do caminho já havia percebido que a frase inicial, que dizia faltar assunto para o texto, não era real. Não vou pedir perdão por isso, leiam, é legal! :)









sábado, 11 de março de 2017

Diário GforC - 1ª semana

Diário GforC - Grupo de formação em Circo/Circocan
Florianópolis/SC

1ª Semana

02 a 10 de março

Fomos todos ao Rancho MC, em Mandirituba-PR, para uma semana intensiva de integração e treinos. Fomos muito bem recebidos pela família e amigos do Pedro Mello, diretor da companhia. O lugar é lindo, uma chácara com árvores altas, construções lindas e vários animais. Comemos muito bem, teve noite mexicana, noite árabe, os cafés-da-manhã sempre super recheados, e muito chá. Treinamos como loucos pra conhecer nosso corpo e mente. Nos conhecemos um pouco mais, nossos professores e nossos colegas. Fizemos treinos de cardio, força, flexibilidade e acrobacias. No sábado de manhã fizemos uma trilha insana pela mata, com vários obstáculos divertidos. Pulamos muros e rios, nos arrastamos, carregamos os colegas nas costas, metemos a cara na lama, e atravessamos o lago na slackline. Também tivemos show de ilusionismo uma das noites, com um dos artistas do CircoCan, o Diogo Alvares, com direito à hipnose e vários truques angustiantes. Fizemos rodas de conversa, falando sobre nossas expectativas, metas, quem somos, onde queremos chegar. Vimos alguns vídeos motivacionais, e conhecemos mais a história da companhia que está nos recebendo para essa formação. Também brincamos de um jogo hilário de adivinhação de palavras, que nos mostrou o lado descontrolado de todos.

Bom, o GforC - Grupo de formação em Circo -, nasceu da ideia de preparar artistas circenses para mergulharem mais profundo e abrir novos horizontes dentro dessa arte milenar e transformadora. A equipe do Circocan, com sede em Florianópolis e Curitiba, também proporciona aulas regulares de circo para os interessados. O programa de formação tem duração de seis meses (março-agosto/2017) e está dividido em módulos, sendo o primeiro voltado à preparação física. Este culmina em um espetáculo aberto, para a apresentação dos resultados alcançados pelos alunos, nos dias 28 e 29 de agosto deste ano - anote na sua agenda e venha nos prestigiar, além de conhecer a ilha da magia. Se quiser saber mais sobre a escola, acesse o site deles: http://www.circocan.com.br/

Voltando de Curitiba, nos estabelecemos em nossa casinha nova, super gostosa, novinha e bem completa, que é um casa alugada durante a temporada para turistas. Ela se chama Jurerê Rural (http://www.booking.com/hotel/br/condominio-jurere-rural.pt-br.html), e fomos muito bem recebidos pelos proprietários Marcelo e Cláudia. Estou dividindo casa com a Vic e o Bruno, um casal vegetariano e super aberto, com o qual estou me dando muito bem, e quarto com a Helen, uma menina super tranquila e alto astral, que veio da Escócia para a formação. Estamos na parte de cima da casa, enquanto embaixo estão morando o Edio e a Amanda, dois lindos de Poços de Caldas/MG, o Vinícius, nosso menino talento, de Limeira/SP, e a Mayla, professora de aéreos em Valinhos/SP. Os dois primeiros dias na casa foram um pouco estressantes, devido a estarmos voltando de uma rotina super corrida, já para outra tão cheia quanto, na qual tivemos que descarregar, arrumar, fazer compras, etc, nos adaptar, afinal. O estresse foi intenso, mas durou pouco. Logo tive tempo de colocar as ideias no lugar e desfrutar da companhia dessas novas pessoas que já posso chamar de amigos. Além dos já citados, também fazem parte do grupo três meninas que foram participantes do GforC 2016, a Isabela, a Dani e a Júlia; a Ana Scaramela, que se apaixonou pelo circo enquanto levava sua filhota para as aulas de ginástica; o Gabriel, atleta de Porto Alegre; a Gabriela, professora de ioga; a Priscila, super fofa, que veio da ginástica; e o casal de Curitiba, Wildner e Shely.

No dia 08, quarta-feira, já começamos os treinos no Jusc - Jurerê Sports Center -, onde é a sede do CircoCan Floripa. O Jusc é um espaço de esportes maravilhoso no Jurerê Internacional, com quadras, ginásio, piscinas, salas, etc, para futebol americano, natação, tênis, danças, lutas, ginástica, linguagens, circo, entre outros. A primeira vez que entrei no ginásio com a minha mãe, antes do intensivo na chácara, e vi a estrutura, consegui visualizar o  que estava acontecendo, não pude conter as lágrimas. O que estou vivendo é um sonho se realizando, é a mão de Deus mostrando seu amor incondicional mais uma vez. Eu me sinto privilegiada, e tenho o coração transbordante de alegria. Difícil encontrar palavras pra descrever isso.

Bom, os treinos no ginásio forma bem diversificados, na quarta tivemos teste de cardio com corrida e saltos, e acrobacia de grupo, com experimentações na segunda altura. Na quinta tivemos o teste físico, no qual os professores visaram conhecer nossos potenciais em exercícios que mostravam nossa capacidade de força, resistência, etc, nas diferentes partes do corpo. Não teve quem se saiu bem ou mal, apenas quem superou a si próprio, dando o melhor de si. Afinal, o circo é isso: aceitação de todas as potencialidades, formas e estruturas. O circo recebe todos de braços abertos. Após o teste super exaustivo, tivemos uma pausa, e uma aula de movimento, dança contemporânea, com o professor Adilson, nosso diretor artístico. Eu me sinto tão aberta à essa experiência, que pude sentir muito prazer em ver meu corpo dançar, e quem me conhece sabe o quanto sou desengonçada pra isso.

Na sexta, começamos com uma preparação física insana, tivemos aula de acrobacias novamente, com novas entradas para a segunda altura. Nessas aulas fico me dividindo entre ser portô e volante, pois gosto do segundo, mas tenho mais jeito e força para o primeiro. De qualquer forma, quero dizer que estou me superando em tudo, me sentindo muito feliz com isso. Subi na segunda altura com o professor Pedro, e ele andou, correu, rodou e até pulou comigo encima. Claaaro que eu gritei horrores, mas me mantive com êxito. A terceira parte do dia ficou por conta da Samanta, que toma conta do projeto pedagógico do curso. Quando ela se apresentou, dizendo o que faria durante o curso, eu já enchi os olhos de lágrimas, pois sabia o quanto isso seria importante e mexeria comigo. Inicialmente, ela nos fez pensar e erguer nosso espírito e pensamentos em gratidão às pessoas que nos apoiaram a chegar onde estamos. E, nesse momento, quero dar uma pausa na escrita prática para agradecer àqueles a quem eu elevei minha gratidão.

À Deus, cujos caminhos são misteriosos, cuja vontade é perfeita, em quem deposito minha total confiança, pois sabe mais do que ninguém a forma de me fazer feliz e plenamente realizada. Quem diria que, após 10 anos de um sonho, estaria eu morando em Floripa, dedicando meu tempo, pensamento, vida, à arte que tanto me encanta e me transforma?! Você é soberano!

Aos meus pais que, mesmo achando uma loucura, não hesitaram em me apoiar, sempre me empurraram pra frente pra viver, confiam nos meus sonhos, gostam de me ver feliz. Eu espero que vocês saibam que eu realmente sou muito grata à vocês. Sério! Vocês são meus heróis, meus exemplos, meus melhores amigos, meu lar, meu porto seguro. Meu maior sonho é vê-los também felizes e realizados! Obrigada! Sem vocês eu não seria nada!

À Anne, que teve um papel crucial no último minuto, me incentivando a gravar o vídeo. Anne, se não fosse você, a sua presença doce e serena, eu não estaria aqui. Obrigada!

Ao Laheto, Tutti e Tiago, Nico, Marcos Botelho, e tantos outros artistas que permitiram que a arte do circo os transformasse e pulsasse através de suas palavras e movimento. Vocês são responsáveis por essa paixão em mim. Obrigada por me ajudarem a me encontrar!

A todos aqueles que caminham e caminharam comigo, por pequenos trechos, ou pelo caminho todo até aqui. Juntos chegamos mais longe! Olha só onde chegamos!

Gratidão é definitivamente a palavra da vez. Me sinto tão aberta, tão fluída, vivendo a vida tão plena e intensamente, e jamais poderia alcançar isso sozinha!

Voltando ao projeto pedagógico, Samanta nos deu a seguinte poesia para ler em voz alta:

Interrogação

A Guido Batelli

Neste tormento inútil, neste empenho

De tornar em silêncio o que em mim canta, 
Sobem-me roucos brados à garganta 
Num clamor de loucura que contenho.

Ó alma de charneca sacrossanta,
Irmã da alma rútila que eu tenho, 
Dize pra onde vou, donde é que venho 
Nesta dor que me exalta e me alevanta!


Visões de mundos novos, de infinitos,
Cadências de soluços e de gritos, 
Fogueira a esbrasear que me consome!

Dize que mão é esta que me arrasta?
Nódoa de sangue que palpita e alastra... 
Dize de que é que eu tenho sede e fome?!


Florbela Espanca, in "Charneca em Flor"


Ao final, Samanta nos fez pensar a respeito do que temos fome e sede, e expressar isso através de papel e pastel. Conversamos sobre os desenhos, e foi um tempo muito rico e produtivo. Gostei muito desse cuidado, não apenas com a parte técnica e física, mas com a parte artística, pedagógica. Sensacional essa organização, CircoCan está de parabéns. Ao final desse tempo, assisti um pouco ao treino da equipe de Trapézio Voador, e depois eu e a Helen fizemos aula de acrobacias de grupo, mão-a-mão e pé-com-mão. A noite, a Helen fez hambúrgueres veganos e tomamos caipirinhas, porque ninguém é de ferro! rs

Por agora é só. Fico feliz em poder compartilhar! Final de semana que vem escrevo mais, porque durante a semana a rotina é super cansativa. Se alguém quiser saber coisas específicas, só perguntar que escrevo no próximo post. Coisas do tipo comida, convivência, a cidade, qualquer coisa. Abaixo vão algumas fotos. Gratidão!!