Tudo se esfarela
Farelo não é
Todas suas facetas
milhares de caretas
pernetas, venetas
Tudo se derrama
Não é na cama
É no chão
Chão que se torna ninho
Para os pés e o coração vacilantes
Se derruba, se machuca
Se grita, se maltrata
Se aperta e apreende
Não entende
Dois são um
Um é mais
Dois e um
Um e mais
Um dois três
Ais, ais, ais
Viram-se, reviram-se
Se atêm e se possuem
Não flore
Não floresce
No encharque
No encharcado desse chão
Pisa, escorrega, se molha
Escorre também o sangue
O que era poesia vira concreto
Piso, azulejo
Num vermelho transparente
Misturado, se deita
Se deita, respira
Inspira, transpira
Revira tudo na cabeça
Revira a fama, a face
Revira a história
Dúvida
Resta tudo
Resta ela
A corroer-lhe os sentidos
A transcender-lhe os pensamentos
Atônitos, atos
Nós, passos
Nós, estátua
Mercê de uma coragem já morta
Jogo, se joga
Se nota, se refaz
Dó, Sol, Mi, mais
Preenche
Relincha, pechincha
Adormece no querer
E amanhã nunca é
Diverso
Dos versos
Tão meus, tão sós