quinta-feira, 9 de julho de 2015

Eu queria saber quando é que eu passei a viver em um mundo cada vez mais cheio de pessoas arrogantes e extremistas?

Eu sei que um dia teria que escrever sobre a repulsa que aprendi a ter pela psicologia depois de cinco anos, mas a verdade é que,desde algum tempo eu resolvi me calar pra não ter que levar pancada. Calei minha voz por não querer convencer ninguém de nada. Mas tá me assustando essa massa dominando o mundo com suas ideias "libertárias", enquanto me calo. Quero falar de gênero, quero falar de Deus, quero falar de aborto, de infância, de sexualidade, quero assumir minha voz sem ter medo de ser julgada. Quero dizer o que penso e achar pessoas que deêm peso a isso.

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VOLTANDO UM POUCO

Meu nome é Luma Strobel de Freitas, tenho 25 anos, trabalho na parte financeira da empresa da minha família, faço parte de um grupo e sou amante de circo, e sou formada em Psicologia. Quando me perguntam se eu quero exercer a psicologia, eu digo que não, eu me desencantei da psicologia. Não exatamente dela, como vocês entenderão mais abaixo.

COMO ENTREI NO CURSO?

Eu sou uma pessoa cheia de sonhos desde a barriga da minha mãe. Sempre gostei de fazer e experimentar de tudo. Fiz curso de crochê, ponto cruz, alimentos a base de soja, handebol, futsal, balé, natação, judô, violão, bateria, circo, teatro, missões, excel, e, como dá pra concluir, foi muito difícil escolher que curso fazer na faculdade. Recebi uma orientação divina (Sim, isso mesmo!), me levando a escolher Psicologia. Eu sabia que meu mundo iria mudar, então, quando passei no vestibular, estava com medo e apreensiva. Mas mergulhei. Chegava cedo e saía tarde, sugando tudo o que podia das matérias, professores, amizades, corredores, projetos, etc. No começo era uma paixão avassaladora, tanto conhecimento, tanta coisa nova, tantas possibilidades diferentes que se abriram no meu horizonte. Aquilo foi mágico, entorpecedor. Entender a origem das coisas, relativizar conceitos, questionar verdades pré concebidas, debater teorias, e até abrir mão da minha essência, pois foi isso que eu fiz.

POR QUE ME DESENCANTEI?

Tudo que segue uma linha progressiva para cima, atinge um pico e depois desce. Foi isso que aconteceu. A paixão foi grande, mas ela sempre acaba. Eu fui sugada por aquela paixão até que ela me deixasse no cárcere, sem alimento, sem hidratação. Cárcere esse, pressão essa, que me diziam que eu era obrigada a continuar repensando tudo, e que o que eu pensava nunca estava certo. Que eu devia deixar de ser certinha, de acreditar em Deus, de ter uma essência pura. Não me convidava mais com gentileza, me obrigava, me puxando a solavancos. Encarceraram-me sob o discurso da liberdade.

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Que liberdade é essa que quer induzir goela abaixo uma forma de pensar dita "correta" a toda e qualquer sociedade. Onde foi que o discurso deixou de ser "o respeito às opiniões, culturas, e pensamentos diferentes", e passou a ser "pensem e ajam como nós, resto das pessoas alienadas e involuídas de todo o mundo"? Que arrogância é essa que leva alguém a achar que tem o direito de ensinar as mães como criar seus filhos, os adolescentes a como se relacionar, os jovens a como lutar, os velhos a como viver a sua velhice??? Caiam em si, psicólogos e aspirantes eternos: Vocês se tornaram aquilo que vocês julgavam errado há, diga-se de passagem, pouquíssimo tempo atrás. Aqueles extremistas que tentavam a todo custo convencer o outro a viver, pensar e acreditar como eles. Esses são vocês hoje, prazer, esses são vocês hoje.

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O RECESSO

Em 2010 eu passei num processo seletivo para fazer um intercâmbio pela faculdade, e vivi entre setembro/2010 a março/2011 na cidade de Santiago de Compostela, na Espanha. Ufa! Ainda bem que tive a oportunidade de me afastar dessa realidade "alienatória" (pois se tornaram alienados) por um tempo e ver as coisas de um ângulo melhor, mais distante, e despido, não completamente, de influencias de qualquer um dos extremos. Vivi um tempo comigo mesma, sem qualquer um me dizer como viver, o que fazer e o que falar. Descobri quem eu não era, quem eu de fato era e quem eu gostaria de ser. Longe de todo e qualquer olhar conhecido.

O RETORNO

Foi um tempo intenso de fases intensas de carne, sangue e renascimento. Mas era preciso retornar à realidade. Porém, era dolorido demais entrar espontaneamente na jaula. Não tive tempo de pensar em uma estratégia para encarar tudo isso "denovo", então me calei e me anulei pra não bater de frente com ninguém, recebendo alimento pelas grades, apenas pra sobreviver até que se completassem os cinco anos. Assim me tornei um camaleão franzino e sorridente.

HOJE

Hoje recebi uma mensagem de uma amiga que dizia estar roendo as unhas pra passar o tempo em um debate no qual não concordava com nada. São muitas vozes sinceras, mas cansadas e caladas. E essas vozes precisam se encontrar. O meu ponto de encontro foi nessa mensagem, o está sendo em outras conversas com outras pessoas, e também o é aqui.

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Eu não desanimei da psicologia. A Psicologia é um campo amplo e enriquecedor, apaixonante e libertador, a respeito de como funciona ou não funciona o ser humano. A Psicologia me fez mais sensível e mais humana. Me deu ferramentas pra toda situação em que me encontrar durante a minha vida. A Psicologia me fez crescer. A faculdade de Psicologia, NÃO. A faculdade de Psicologia que eu cursei, NÃO. No entanto, toda a pressão alienada e alienatória do campus não foi capaz de me deter e me deixar no chão por muito tempo. A minha essência tem raízes que o tempo não é capaz de desfazer. Raízes que vão além do físico, visível e palpável. Raízes espirituais, raízes divinas. De um ser criado e orientado segundo a semelhança de Deus, vivendo sob gratidão eterna por cada acordar e cada fôlego de vida. Por livre e espontânea vontade. Por ter certeza de que reais foram as experiências que tive com Deus, e real é o meu relacionamento com o Pai.

Todavia, eu deixei de ser a menina crente que andava com uma bíblia debaixo do braço, querendo julgar as pessoas segundo suas atitudes e pensamentos, e enviá-las a um dos dois destinos que cria serem os únicos: o céu e o inferno. Eu aprendi a respeitar o fato de que existem pessoas diferentes, com experiências diferentes, pensamentos diversos... (e você já entende). Mas, pensando na vida como uma corda bamba, amarrada em dois extremos, posso me ver percorrendo ela com muita dificuldade e chegando ao centro, onde, quem pratica slackline, sabe que é o ponto de maior tensão, mas também consiste na maior vitória de um praticante. A melhor manobra é realizada no centro da fita. Não preciso conhecer os dois extremos para chegar ao entendimento de que o equilíbrio não está nas pontas. Agora posso percorrer outras cordas, outros muros, calçadas, escadas, rios, e trajetos infinitos, pois me tornei uma pessoa melhor nessa caminhada. Venci uma fase e aprendi uma lição.

O texto acabava aqui, sem mais nem menos. Nesse ponto, preciso dizer que quem supervisionou meu texto sentiu falta de uma orientação, de um final, de uma palavra aconchegante. Eu, sinceramente, não a tenho, e não tenho a intenção de tê-la. Esse texto é um relato, um desabafo que eu precisava fazer. Isso é potência dentro de mim, virando ato em qualquer momento, no momento certo. Que cessem as arrogâncias, os extremismos e os egos. Que cresça a força espiritual e que se aumente o volume da voz dos bons, que se calaram por medo da repressão. Que o mundo seja de todos, e que a sensibilidade e o respeito oriente leis e regras. Que haja mais pontos de encontro para essas vozes cansadas...