terça-feira, 23 de outubro de 2012

Forever Young

Milhares de letras de músicas
Que eu gostaria de sumir com elas
De sumir com elas? Ou de sumir com elas?

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Análise Humanista do Filme O Fabuloso Destino de Ampelie Poulain, de Jean-Pierre Jeunet, França/2001



Análise Humanista do Filme O Fabuloso Destino de Amélie Poulain, de Jean-Pierre Jeunet, França/ 2001

Para Rogers, cada pessoa tem a capacidade inata para se auto-atualizar, e as pessoas psicologicamente saudáveis são aquelas que se abrem para a experiência, vivendo plenamente cada momento e cada oportunidade, sendo capazes de serem guiadas pelos próprios instintos – em oposição à razão e opinião alheia -, são livres e altamente criativas. Assim vejo Amélie, uma mulher perfeitamente saudável, apesar da história um pouco fria. Amélie vive intensamente cada fato, cada olhar, cada história, e, mesmo que hesite um pouco antes de agir, decide por seguir seus instintos e fazer o que deseja, usando amplamente a criatividade para viver o seu mundo, e fazer melhor o mundo de outras pessoas.

O tempo todo ela faz isso no filme, com os moradores do prédio, com o pai e com o rapaz por quem está interessada. Ela faz com que Madalena Walacce dê um fechamento no seu passado e possa viver no presente; sensibiliza o coração de um homem que se diz de vidro, por ser tão frio e frágil, a ponto deste aprender como dar mais cor à sua própria vida; encoraja também o pai a esquecer o passado e viver coisas que gostaria de viver, se tornando mais saudável psicologicamente; faz com que um homem e uma mulher enxerguem além de seus problemas e se apaixonem; etc. Ela atua como uma facilitadora da experiência das pessoas ao seu redor, posição que deve ser tomada pelo terapeuta em uma terapia humanista. Esse foco em viver no presente é um conceito bastante importante nessa terapia, pois significa estar em harmonia com a vida. Na verdade são as próprias pessoas que decidem viver de verdade, e Amélie atua como uma facilitadora dessa experiência.

Na cena em que o pai de Amèlie lhe faz o exame mensal, esta parece apática, mas na verdade seu coração batia forte ao estar perto do pai. É engraçada a forma como demonstramos emoções, acredito que não existem pessoas sem emoções, existem diferentes formas de mostrá-las. Muitas pessoas vivem tentando mudar, ser parecidas com fulano ou ciclano, mas a felicidade e a satisfação não estão em determinado tipo de personalidade, mas sim na aceitação e congruência de si mesmo com sua forma de ver e pensar.

Amélie, para evitar o confronto com o mundo, se refugiou na solidão, era sua forma de encarar a realidade. Isso não é uma patologia, é apenas uma maneira de viver. Cada ser tem sua forma de alcançar objetivos, de enxergar a vida, de acordo com suas crenças fundamentais. Amélie dá muita atenção às coisas simples, como jogar pedras em um canal de sua cidade, e as características ou hábitos mais particulares de cada pessoa que conhece. No filme todo se enfoca essa atenção às coisas simples. Esse é um ponto a partir do qual gostaria de partir com a minha análise. Apenas pessoas que vivem exatamente o momento em que estão inseridas são capazes de apreciar as coisas simples. Aqueles que vivem no passado ou no futuro não têm essa capacidade. Estar bem consigo mesmo requer estar em congruência com o que pensa e com o que acredita, e não se submeter a exigências a fim de agradar alguém ou se moldar a um modelo bem aceito na sociedade; requer não estar demasiadamente ansioso pelo que há de vir daqui anos, dias ou minutos; e também não estar preso ao passado, e não carregar culpa por nada que tenha feito ou deixado de fazer.

Também são enfocadas as situações imprevisíveis, que fazem mudar totalmente o curso da vida das pessoas. Amelie, em um dia qualquer, descobre uma caixa de memórias escondida em um azulejo na parede de seu banheiro. Pesquisa pra saber quem morava lá antes dela até encontrar o dono da caixa de memórias. Decide que se, ao devolver a caixa, o homem se emocionar, ela vai se empenhar em intervir na vida das pessoas. Com essa decisão ela coloca seu destino nas mãos de outra pessoa. Amélie se sente em harmonia com ela mesma e quer ajudar toda a humanidade. Amélie tem dificuldade de lidar diretamente com as pessoas, então vive usando a criatividade pra inventar meios de se relacionar e mudar de alguma forma a vida das pessoas. Por isso, inventa toda uma situação para devolver a caixa de memórias a seu dono e a experiência dá certo. O homem se emociona, e Amélie então decide mudar o curso da vida de algumas pessoas.

Por Amélie ser extremamente criativa, ela explora hipóteses muito engraçadas a todo tempo, como quando pensou quantas pessoas estariam tendo um orgasmo naquele minuto, e nas hipóteses que cria para entender porque o homem misterioso tira fotos em todas as estações de metrô. A criatividade, segundo Rogers, se desenvolve em uma pessoa psicologicamente saudável.

No filme, quando Amélie fica com o álbum de Nino e este espalha cartazes com seu número de telefone para reencontrar o álbum, a narração do filme diz que qualquer garota normal ligaria e marcaria um encontro pra ver o que aconteceria, mas que isso seria encarar a realidade, e Amélie não queria isso. Acredito que tenha ficado um pouco insegura, mas quando encorajada pelo homem de vidro enfrentou a realidade do seu jeito particular. Amélie passa a se compreender e se aceitar melhor na medida em que se relaciona com as pessoas, pois no encontro com o outro nos tornamos mais autênticos, assim acreditam Carl Rogers e Luma Strobel de Freitas. Nesses encontros de Amélie, principalmente com o homem de vidro, eles não se cobram nada e se aceitam incondicionalmente, o que favorece o encontro consigo mesmos.  Segundo Rogers, o sentimento de cumplicidade gera transformação e autoconhecimento.

Cada pessoa mostrada no filme é fruto de suas escolhas. O cara perseguidor de mulheres, o jornalista fracassado que só copia, a balconista que acredita nas suas invenções de doenças, a dona da cafeteria, o próprio Nino, o pai de Amélie que escolheu se fechar em seu mundo, etc. e Amélie, que resolve conquistar Nino e mudar a vida de muitas pessoas, decidindo por seguir seu destino. Quando deixamos passar as chances, nosso coração endurece e fica frágil, então ficamos psicologicamente doentes, pois não fizemos o que queríamos fazer.

É engraçado como a síndica do prédio de Amélie relaciona seu próprio nome com significados em que acreditou ser verdade: Madalena Walacce, destinada às lágrimas. O fato de ela acreditar e aceitar isso como realidade faz com que ela se conforme e seja realmente assim. Cada fato da vida tem um significado diferente para cada pessoa, de acordo com sua singularidade e forma de ver o mundo, como na cena em que o homem da caixa de memórias diz, de forma poética, que a cabine telefônica o estava chamando para vivenciar algo mágico, enquanto o homem da lanchonete diz que o microondas o estava chamando para o trabalho, de maneira tragicamente realista.

Em uma cena do filme, Amélie imagina seu destino, e chora, se sentindo insatisfeita, o que a leva a decidir por mudar o rumo da vida de seu pai também. Ela não se atrasa, se culpando e se lamentando, ela simplesmente segue seus desejos e instintos, fazendo o que acha certo e digno. Dessa forma, escolhe por ser ela mesma, agindo de acordo com o que faz bem a ela, que leva à saúde psicológica, segundo o humanismo.