segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

Devaneios sem título 1

Eu sou tão "la la land", sinto tanto, sou toda sensações. Me sinto tão inteira, eu e Deus, eu e eu, eu e minha solitude. É claro que tenho meus fantasmas, minhas necessidades, mas eu não troco mais poder perceber minha própria respiração, os cheiros, sabores e texturas que me agradam, que me elevam. Não troco por nada raso. O que sinto é tão raro. Não troco essa satisfação de comer comida japonesa e guardar o rolinho primavera pro final, esperando ser Romeu e Julieta, quando na verdade era carne moída. Não troco deitar a cadeira do cinema e deixar minhas pernas como queira, e chorar alto, e quando acabar, sair saltando os degraus ao som da música que conduz as letrinhas no final do filme. Não troco nunca saber onde deixei o carro, sorrir e acenar pra quem passa do meu lado quando estou perdida. E estou tão perdida de mim, mas tão encontrada por quem me criou, por quem me conhece, me fez e me ama. Estou tão encontrada de quem não me deixa desacreditar, e viver, desfrutar, amar, tocar, cheirar, sentir o chão quando piso, o ar que entra em meus pulmões, a música que toca minha alma e faz todo o meu ser dançar em harmonia. Oh música celeste, par do baile, olhar de acolhimento do amor incondicional. Mergulho nesse olhar e me pego sobrevoando de uma forma tão sublime, tão real e tão concretamente alcançável, num plano espiritual diferente daquilo que se aprende sobre essas coisas, na igreja, na escola, na mídia. Me permito seguir meus instintos, e ao invés de entrar em casa e ir para o quarto dormir, eu sigo meus passos até o balanço, pra sentir o vento em meus cabelos, pra me deixar e poetizar esse mar de sensações dentro de mim. Pra não deixar passar a beleza, e fazer arte com ela, eternizá-la em "papel". Paro e sinto. Sinto-me plena, mesmo sem respostas pra quase nenhuma pergunta. Também cessei as muitas perguntas que fluíam da minha ansiedade. Parei de querer resolver e conquistar tudo ao mesmo tempo, de querer tragar o mundo em uma só inspiração. Confiei nas mãos daquele que tem o controle de todas as peças da vida, e mantém o universo em harmonia. Tão grande e tão pequeno, tão grande e tão pequena. A vida é um musical, e o enfoque é seu, sobre onde ela vai chegar. Se você vai cantar ou dançar, eu não sei. Você pode ser rabugento, cético ou credor da teoria de que precisa sofrer. Mas a vida ainda vai estar lá, com suas portas abertas, com um novo dia, com oportunidades, com anjos em forma de pessoas, com alguém que se oferece a carregar o seu fardo e te ensinar a viver todos os segundos. Qual cor você vai dar? Qual melodia vai ter o seu caminhar? Qual sorriso você vai vestir? Em que você vai acreditar? Enfoque naquilo que é eterno! Não há como tentar te convencer de que essa é a melhor opção. Você tem que arriscar, pois essa é uma verdade que vai além de qualquer tentativa de explicação. A paz que excede todo entendimento. Viver excede todo entendimento. E é só. Já deu pra adormecer...

domingo, 1 de janeiro de 2017

O dia em que Deus me deu uma sacola

Já é certo o aguçar de sensibilidade que o mar me provoca. Toda vez que tenho a oportunidade de estar próxima ao mar, eu já me deixo levar pela brisa leve que toma todos meus sentidos. É sempre um convite pra estar só e ouvir. Sentir, ver, absorver. E assim se fez, em um dos últimos dias desse ano tão intenso. Eu caminhei. Andei até onde a melodia dentro de mim me atraía. E ela me levou até o braço de rio que chega ao mar, formando estrias na areia, ondas leves que refletem a luz do sol, piscinas naturais de água salgada. Mar adentro fui, me aproximando do meu chamado. Abri os braços em sinal de rendição ao mistério, respirei fundo, pronta a receber a experiência que estava preparada de antemão para mim. Sorri com a boca e os olhos. Sorri com o coração aberto, escancarado. A comunicação se estabeleceu entre eu e Deus. Entre pai e filha, amado e igreja, criador e criacão. Criou-se daí a voz em forma de oração, e ali ficamos a contar-nos aquilo que sentíamos. Falamos sobre gratidão, sobre medo, desejos, dores, ardores, e a vida continuava linda e desenhada ao redor desse canal melódico que criamos juntos. Dançamos em espírito, flutuava sem sentir os pés, enquanto na presença de meu Rei. Vivemos aquele momento de fato, em toda sua extensão e profundidade, e não existia nada além de nós, nenhuma outra voz. Nos levantamos com os olhos fixos no horizonte, novamente respiramos fundo. Respiramos paz com a alma, e nos deixamos brisar. Nos deixamos brisa. Abraçamos-nos em cumplicidade.

Voltando a caminhar, encontrei uma sacola vazia, metade enterrada na areia. Me abaixei para pegá-la. E peguei. Enquanto caminhava, encontrava outras sacolas, tampinhas, garrafas, embalagens, e ia enchendo minha sacola com o lixo encontrado na areia. A voz logo deu sentido ao que aconteceu de forma tão aparentemente imprevisível, mas na verdade maquinada com tamanho amor. E Deus falou-me novamente sobre acalmar o coração, caminhar e fazer de cada passo a minha missão. Ele cuidaria de tudo, e deixaria sacolas ao longo do caminho, propositalmente, pra me dar a oportunidade de servir, de amar, de cuidar. Do meu próximo, da nossa casa, do nosso coração. Foi dessa forma tão sutil que aprendi mais uma grande lição. Deus trabalha nos detalhes, e se importa com cada um deles. Está ao nosso lado, e valoriza cada aprendizado, cada olhar de compaixão, cada "bom dia" gratuito, cada lavar de louça, cada abraço, cada "está tudo bem" disposto a ouvir, cada gesto de amor, cada desejo do coração, cada lixo jogado no lixo. Sim, Ele se importa! E nossa missão é essa, é hoje, é aqui, fazendo o nosso melhor sempre, expressando o caráter daquele que nos transformou, sem medo, vergonha, orgulho ou vaidade. Apenas com o que nos é dado no momento. Feliz aquele que é fiel desde o pouco. Nisso consiste o amor. Minha sacola cheia e pesada, com a mínima contribuição desse afeto divino, teve destino em um latão de lixo na frente de um bar. E mais um aprendizado se firmou em meu coração, que está transbordante de gratidão desde esse dia tão especial. 💙

Paizão presente sempre!