segunda-feira, 3 de abril de 2017

Diário GforC - 3ª semana/2

Diário GforC - Grupo de Formação em Circo/CircoCan
Florianópolis/SC

3ª Semana

24 a 27 de março

Resolvi dividir a terceira semana em duas partes por dois motivos: acredito que, com o meu entusiasmo e maneira de escrever, os textos estavam ficando grandes demais, então achei melhor espalhar conteúdo, já que não sei e não acho interessante escrever de maneira mais sucinta; segundo porque, especialmente essa semana, tivemos uma pausa nos treinos habituais para vivenciarmos algumas experiências com o grupo circense Circo Mínimo, de SP (http://www.circominimo.com.br/). Bom, o Grupo Circo Mínimo, foi contemplado em um projeto relacionado a escolas profissionalizantes de circo, através de um edital de cultura, que não sei dizer bem qual é. O projeto visa visitar as escolas circenses profissionalizantes do Brasil, gerando discussões a respeito da formação circense, proporcionando oficinas, e apresentando o espetáculo SobreVoltas, dirigido por Rodrigo Matheus, criado e concebido pelos artistas Rodrigo Matheus, Giulia Tateishi, Jan Leca, Renato Mescoki e Rubens de Oliveira.

Dessa forma, na sexta-feira, dia 24 de março, não tivemos nossos treinos habituais, mas fomos contemplados com a oficina de criação e direção, ministrada pelo Rodrigo. Ele se apresentou e nos convidou a jogar alguns jogos, daqueles em que treinamos nossa atenção e todos os outros requisitos necessários em cena. Todos os dias, a oficina dele começava com um jogo diferente, em que ativávamos corpo e mente, antes de mergulharmos em um processo complexo e prazeroso de criação. Cada participante foi desafiado a apresentar um número pessoal para o diretor e os colegas de curso, e então se submetia a avaliações e críticas dos mesmos, para que o seu processo pudesse fluir, e aprimorar-se. Nos apresentamos, inicialmente, sem intenção, e depois repetíamos o número imersos na ideia de um tema, escolhido por nós mesmos. O tema tinha a ver com algo que queríamos dizer para o mundo, e expressar através da nossa arte. Entre apresentações e avaliações, assistíamos alguns vídeos propostos pelo diretor, para buscarmos referências em nossos números, e aguçarmos nosso fazer crítico e criativo. Foi extremamente enriquecedor e lindo ver cada colega se apresentando, crescendo, sendo aberto às críticas e opiniões, e aprender com o mestre generoso (que apareceu de sunga no ginásio, no último dia de oficina) que esteve entre nós. Ah, eu e a Ana Scaramella começamos a criar um número cômico de acrobacias de solo, e foi super prazeroso dar vida à essa ideia, mesmo nos seus primeiros passos de vida. Pretendemos continuar trabalhando encima da nossa criação, então quem sabe ainda vou escrever sobre ela por aqui. Ao final da oficina, como ainda tínhamos energia física pra gastar, ficamos para o Open Gyn, e para a aula de acrobacias de solo. Eu e Ana ficamos treinando juntas, entre uma galera que estava animada com acrobacias nesse dia.

A oficina de criação continuou no sábado o dia todo, e sábado a noite fomos agraciados pela apresentação do espetáculo Sobrevoltas (http://sobrevoltas.esy.es/). O espetáculo, já de cara, desconstrói a ideia de uma apresentação circense tradicional, oferecendo elementos e expressões artísticas provenientes de várias artes irmãs: a música, o teatro, a dança, etc. A peça flui como um todo, sem precisar de pausas ou costuras, não há uma quebra no tempo para a montagem de uma figura ou qualquer coisa assim. Há uma imitação da vida, como ela é, fluída, livre, natural, em meio a qual surpreende, porém não mais que qualquer outro elemento, a qualidade técnica do número. De elementos claramente circenses, são apresentados os malabares - claves -, acrobacias de solo e corda lisa. Ainda assim, o que mais me surpreendeu, além do envolvimento e técnicas musicais maravilhosamente apresentados, foi a cena cômica criada em volta da Giulia, retratando uma imagem parte sensual, parte de horror, em que seus cabelos estão esvoaçantes, seus olhos bem abertos, e ela ri escancaradamente, com os braços abertos em uma sensação de poder. Aplaudidos de pé por um bom tempo, mostraram, com humildade, que o fazer circense vai muito além do que estamos acostumados a ver, e todo tipo de pensamento, incluindo o artístico, precisa sair fora da caixinha.

Bom, no sábado, eu, Vic, Bruno, Vini, Helen e Mayla, saímos para conhecer a noite de Canasvieiras. A primeira parada foi a galeria gastronômica abaixo do Hotel Canasvieiras Internacional, na esquina da minha casa. Dividi um combinado de sushis com a Mayla, enquanto o restante do pessoal preferiu pizzas, lanches e yakisobas, apresentados num preço acessível. Depois fomos caminhar um pouco nas ruas movimentadas, entrando e saindo das inúmeras lojinhas sem comprar nada, gastando apenas em um porão de jogos, num cineminha 6D, em que a imagem nem era real, mas eu me assustei várias vezes. Enquanto procurávamos uma sorveteria, o Vini percebeu que estávamos sendo seguidos por uma pessoa com as mãos escondidas em um moletom. Apressamos o passo, mas foi o suficiente pra todos ficarem em estado de alerta, e alguns até de pânico. Tomamos o nosso sorvete, esperando a situação se acalmar um pouco, e resolvemos passar por outra rua pra voltar ao carro. Como a nova rua terminava na praia, imaginamos que seria ainda mais perigoso, então voltamos e encontramos nossos "amigos" Homem de Ferro e um outro personagem, em sua van, tirando as fantasias após uma noite de trabalho, tirando fotos e brincando com os turistas. Pedimos informações, e após alguns minutos de conversa, e de perceber que eles eram gente do bem, e nós também, eles se ofereceram pra nos levar até o carro. Nisso, teve gente que saiu da conversa até quase empregado. rsrs Pra ver como o universo conspira, Deus cuida, tudo coopera para o bem, essas coisas. Eu fico com o cuidado do Paizão. Após gordices, diversão, tensão e dois novos amigos, voltamos às nossas casas para um merecido, porém curto, descanso.

Curto porque no domingo cedo já estávamos no ginásio para o início das oficinas de experimentação e pesquisa em corda lisa e movimentação acrobática, dessa vez com o Jan, Giulia e Renato. Iniciamos já com um alongamento não usual, mandando a preguiça embora. Em movimentação acrobática, aprendemos a usar o espaço de forma inusitada, experimentando novas passagens, desconstruindo as já conhecidas. Nada de cambalhotas, estrelas e parada-de-mão, esquece! Exercício bom pra cabeça esse! Em pesquisa em corda lisa, fomos desafiados a olhar pra forma como nosso corpo fica pendurado, onde estão a força, as tensões no corpo, os apoios da corda, e quais as possibilidades de movimentação dentro de cada apoio. Subimos e descemos várias vezes, experimentando a relação do corpo com a corda, como se não nos conhecêssemos. Almocei em casa, e voltei um pouco atrasada. A tarde foi o último dia da oficina de criação, e foi o dia em que eu e Ana apresentamos. Foram momentos únicos, e não conseguíamos parar de falar sobre isso. No domingo a noite, fiz jantinha, ouvi umas pregações online do Pr. Lipão, da Onda Dura (http://ondadura.com.br/), e descansei bem.

Segunda-feira, dia 27/março, Dia Nacional do Circo, e como estamos? Mortos de cansados, a ponto de não ter energia pra desejar um super dia ou escrever um textão sobre tudo o que essa arte milenar representa pra gente. Mesmo assim, foi especial. Amanheci o dia pensando que finalmente ia perder o medo do Trapézio Voador, e esse Dia do Circo iria então, se tornar inesquecível. No entanto, nada como planejei, como você pode acompanhar nesse relato. Comecei com a oficina de experimentação na corda lisa, e a Giulia pediu pra que trouxéssemos nossos aparelhos e fizéssemos alguma sequência que sabíamos. Belinha me ajudou a pendurar a minha lira (que saudade que eu estava!), e fizemos uma atividade curiosa e libertadora de estar desenvolvendo nossa sequência, entre palmas da Giulia, quando tínhamos que ficar estátua onde quer que estivéssemos, nos ensinando a ver a beleza do processo, desconstruindo a ideia de que só a figura é válida. Tudo tem beleza, tudo é válido, e você deve estar totalmente presente em tudo. No início, no processo, nos entres e nos fins. Tudo é importante. Essa atividade abriu horizontes na minha mente criativa, sou muito grata. Infelizmente, ao final dela, senti meu nervinho das costas fisgar, e fiquei daquele jeito que já conheço, sem poder olhar pro lado, de dor. Terminei a manhã apenas observando meus amigos construírem uma sequência sólida e fluída com as movimentações acrobáticas aprendidas na oficina. Abracei meus mestres, desejando feliz dia do circo, com o pescoço imóvel. A partir daí, me restou apenas ir pra casa almoçar e tomar meu super relaxante muscular poderosíssimo, que meu ortopedista receitou, caso esse nervinho fizesse o que fez. O resultado foi sono sem fim, dormi como se não houvesse amanhã, e não fiz mais nada além de dormir.

That's all, folks ;)







Nenhum comentário:

Postar um comentário