Diário GforC - Grupo de formação em Circo/Circocan
Florianópolis/SC
2ª Semana
Pra falar a verdade, sobre essa semana tenho menos assunto, já que começamos a entrar em uma rotina. Começo escrevendo que fiquei felicíssima com a repercussão do primeiro relato. Não esperava, pois fazia tempo que não escrevia, e isso me incentivou bastante em uma das coisas que mais amo fazer, que é escrever. Final de semana passado, pra variar, fiquei em casa, escrevendo. Aliás, até hoje ainda não fui à praia, desde que estou morando aqui. Para o desespero dos meus conterrâneos, eu não sou a maior fã de praia. Gosto da imensidão do mar, do vento, da liberdade, mas não sou de ficar deitada, pegando sol e comendo milho cozido o dia inteiro não. Gosto da praia mais como contemplação. O que quero mesmo é fazer as trilhas da ilha, e participar dos eventos culturais daqui. Enfim, no sábado passei o dia morgada, escrevendo, e a noite sai com o pessoal da casa, mais alguns colegas, para a Lagoa. Ficamos em um foodtruck onde tinha um bowl de skate, e eu achei isso incrível, nunca tinha visto um, a não ser na televisão. Enquanto não estava comendo os sushis mais baratos da minha vida (e deliciosos, por sinal), estava apreciando os movimentos dos skatistas na pista. Mas, no geral, não sei muito como agir na noite, nem onde pôr as mãos, o que falar, como me comportar. Pareço uma pata perdida e pelada. Não me julgo por isso, prefiro o dia. Gosto de correr, brincar, jogar, ouvir, de me sentir a vontade, mas definitivamente, na noite me sinto perdida. Por esse motivo, quando todos quiseram estender o passeio, eu já bati em retirada. Acabou que o pessoal que estava comigo também disse que estava muito cansado e fomos todos pra casa. Antes disso, paramos em um mirante, do qual pudemos apreciar o espetáculo de luzes da Lagoa da Conceição. Chegando em casa, como estava de TPM, me permiti um brigadeiro e um filme melancólico. Não demorei pra cochilar em meio ao filme.
No domingo de manhã fui à igreja com a Pri. Nos encontramos no meio do caminho e fomos parar no galpão perto da UFSC, onde funciona a FHOP - Floripa House of Praying. Gostei muito do culto, o louvor foi um momento mágico, bem emocional, fiz uma festa pra Deus no meu coração. O pastor é um canadense, ex-jocumeiro, que entendeu o chamado de Deus para abrir uma sede da igreja do Canadá, aqui em Floripa. Se quiser saber mais, aqui vai o site: https://fhop.com/. Me surpreendeu o simples fato de que há um intervalo entre louvor e pregação, onde você pode usar o banheiro, tomar água ou um cafézinho, e são servidas balinhas. Me senti num lugar super acolhedor. Quem pregou foi um convidado inteligentíssimo, que passou por vários filósofos e ideias de vida de diferentes influenciadores, pra chegar no ponto em que queria. Confesso que não me lembro mais o assunto, mas fiquei surpresa com a inteligência dele. Só quando cheguei em casa e pesquisei sobre a igreja, é que vi que ela é super famosinha, de onde surgiu a talentosa Laura Souguellis. Terminando o culto, fomos almoçar no Shopping Iguatemi. Quando entramos, estava um Sol lindo, através do qual podíamos admirar a paisagem do mangue enorme que tem atrás do shopping. Comemos pizza, conversamos bastante, e depois passamos no mercado, pra comprar alguma coisinha e não ter que pagar o estacionamento. Achei potinhos de R$1,99, AMO POTINHOS DE R$1,99! Só então percebemos a chuva que estava lá fora. Voltando pra casa e olhando as árvores caídas, gelo na pista, trânsito parado, foi que me dei conta da tempestade desse domingo. Depois até o meu pai compartilhou um vídeo do que havia acontecido. Bom, estávamos protegidas.
Segunda e terça-feira foram dias difíceis, por estar nos meus dias de menina, os treinos ficam mais complicados, porque a disposição mental não é a mesma. Treinei os dois dias com lágrimas nos olhos, errando e repetindo coisas na garra, lembrando sempre do porque estou aqui e de como sou privilegiada. Aliás, pausa pra um aprendizado que tive enquanto fazia o Caminho de Santiago. Em um dos dias caminhando, eu estava fadigada, cansada, com saudades, psicologicamente chateada, quando parei, atirei minha mochila na grama, deitei e chorei como uma criança, me perguntando porque diabos eu estava fazendo aquela loucura de caminhar quase 30km por dia, num frio de -9º, tão longe de casa. Foi então que Deus me trouxe à memória o motivo de eu ter iniciado aquela caminhada. Vocês vão ficar na curiosidade, outro dia escrevo sobre o meu motivo. Mas o importante dessa história, é que você precisa saber muito bem por que iniciou algo, pra ter forças pra caminhar a cada dia. O porque você começou me parece mais importante até do que onde você quer chegar. Pra mim, não importava chegar à Santiago, mas viver ao máximo aquela experiência maluca que estava tendo a oportunidade de viver. E eu sabia bem o porque havia começado, lembrar disso me deu forças pra pegar minha mochila denovo, e voltar a caminhar. Eu era capaz de tudo, eu sou capaz de tudo. E não são apenas frases motivacionais, é a verdade. Foi com esse espírito e lembrando desse aprendizado, que treinei, dando o meu melhor, mesmo com lágrimas nos olhos e a estrutura psicológica enfraquecida.
Além do ciclo feminino, havia outra coisa que estava mexendo com as minhas emoções, o fato de que eu havia decidido sair da casa onde estava, para morar só. E o que tem de errado nisso? Nada, é uma escolha, simples assim. Mas o que tem de curioso é que eu vim pra Floripa pensando no quanto é difícil conviver com várias pessoas diferentes em uma casa, e o quanto isso se torna ainda mais difícil quando se tem uma personalidade tão forte quanto a minha. E o quanto eu estava cansada de ter que enfrentar isso, e por isso já passei a procurar um apê pra morar sozinha. Mas no momento da decisão eu percebi o quanto a realidade estava se mostrando diferente, o quanto as pessoas com quem eu estava convivendo fizeram essa experiencia parecer tão fácil, estando dispostos e abertos. O quanto me senti amada, respeitada, acolhida, na casa com a Vic, o Bruno e a Helen. O quanto eram gostosas as conversas na cama, antes de cochilar, que eu e a Helen tínhamos. O espaço compartilhado e respeitoso que criamos naquela casa, a rotina vegetariana, as trocas de ideias, de videos, de sabores, de cheiros, sempre com tanto respeito e, ao mesmo tempo, liberdade. Acabou que fiquei com uma dúvida enorme na cabeça sobre o que eu queria fazer em relação a isso. E ao final, decidi que iria mesmo me mudar. (Uai?!) Não por não conseguir conviver em comunidade, pois mais uma vez aprendi que tudo é possível, a gente aprende e se adapta a qualquer situação que nos propomos, e, de quebra, muitas vezes somos surpreendidos com as pessoas maravilhosas que cruzam o nosso caminho. Mas por entender que, dentro das minhas possibilidades, esse é meu estilo de vida, eu gosto de estar só, de ter meu tempo meu espaço. Me sinto só, mas não no sentido da solidão. Amo estar acompanhada, rir, compartilhar, mas, como todo artista que tem em seu âmago, uma alma angustiada, de onde vem sua criatividade, aqui estou eu, na minha solitude. Me respeitei enquanto um ser que cabe melhor nesse estilo de vida solitário, mesmo sabendo que posso estar onde e com quem eu assim desejar. Gratidão à Vic, Bruno e Helen, por serem canal do meu autoconhecimento e, porque não, da minha felicidade.
Na quarta-feira, as coisas começaram a melhorar. Teve treino de força física, que é um treino insano, que envolve três séries de 12 repetições de 8/10 exercícios, como push ups, pull ups, leg lifts, dips, subida controlada no tecido, canivete, extensão de tronco e de pernas, etc. O massa desse treino é que o nosso professor Sugawara preparou um treino específico para cada aluno, de acordo com seu nível de força, habilidade, correção de movimentos, etc. Nos enviou planilhas com a execução correta de cada exercício, para acompanharmos. Pensa em um curso planejado nos mínimos detalhes?! Estou surpresa com essa equipe! Não consegui chegar ao final de todas as séries no tempo limite, mas ganhei uma puta vontade de vomitar. No entando, vocês vão ver que a gente vai aprendendo. Repetimos o mesmo treino na sexta, com outra dupla, corrigindo algumas coisas, como não beber tanta água e não descansar tanto entre os exercícios. Fui com mais vontade, e graças a isso, e ao trabalho em equipe, dessa vez, todos completamos as três séries dentro do tempo previsto. Todo dia eu me vejo superando limites. E entendendo que meu limite não é nem de longe aquele que eu imaginava, ou onde chega minha fadiga. Eu posso ir muito além da minha fadiga, e tenho visto que meu corpo funciona de acordo com a luz que minha mente dá. Ela controla o limite do meu corpo. Claro que, fisicamente falando, existem outros fatores e outros limites, mas no geral, até onde eu consigo chegar tem muito mais a ver com o meu psicológico do que com o meu corpo, de fato. Quando você se fadiga, ainda há muitos passos que você pode dar. O lance é ultrapassar os limites da mente.
Ainda na quarta feira tivemos, no projeto pedagógico, algumas dinâmicas sobre trabalho em grupo. Tenho que destacar novamente a importância dessa parte da formação. Trabalhamos fatores essenciais ao nosso crescimento enquanto grupo, identificamos nossos pensamentos, dificuldades e potenciais durante as conversas e dinâmicas, e, sem ao menos perceber, nos sentimos muito mais leves e prontos, colocando em prática, naturalmente, aquilo que dinamizamos. Usamos uma corda, na qual cada pessoa do grupo se segurava com as duas mãos, deixando-se pesar para trás e, assim, experimentamos a nossa codependência, a influência das nossas atitudes sobre a andamento do grupo. Foi ótimo, fizemos reflexões riquíssimas, e tudo foi, novamente, iniciado a partir de uma poesia (não poderia ser mais feliz). Nos conhecemos a partir dos nossos encontros, a partir do outro.
"Nada posso oferecer que não exista em você mesmo
Não posso abrir-lhe outro mundo
além daquele que há em sua própria alma.
Nada posso lhe dar, a não ser a oportunidade, o impulso, a chave.
Eu o ajudarei a tornar visível o seu próprio mundo, e isto é tudo."
(Hermann Hesse)
A poesia dispensa explicações. Essa semana ainda recebi do meu querido amigo Léo, pastor no Rio, a seguinte frase: "Ninguém é alguém sem um outro alguém." (Thiago Rodrigo), que veio a somar na reflexão do projeto pedagógico. Por favor, não confunda isso com dependência romântica. Não vou nem dar bola. Ainda na quarta, fui em um pequeno grupo de oração na UFSC, com a minha amiga Pri. Foi um momento super gostoso, falamos sobre nos relacionar de fato com Deus, como nosso pai e amigo, e não entendê-Lo como algum Rei soberano, sádico e distante. Agora já perdi um pouco a ordem das coisas, mas também tivemos reuniões sobre a possibilidade de outras pessoas se mudarem da casa, onde me surpreendi mais ainda com o caráter das pessoas com quem estamos lidando. Marcelo, Cláudia e Pedro se mostraram pessoas interessadíssimas em fazer o bem, sem olhar a quem, e sem esperar elogios ou recompensa. Pessoas essencialmente boas. Faz tanto tempo que não encontro gente assim, me sinto felicíssima por encontrá-los e estar convivendo e aprendendo com eles. Mesmo que eles não esperem por isso, deixo meu elogio e gratidão ao coração e disponibilidade dos três, principalmente, mas também de toda a equipe, Nick, Suga, Adilson, Samantha, etc., que nos acolheu como parte de uma grande família, que de fato, torcem pelo nosso crescimento, pelo nosso bem, com quem podemos contar de verdade!
Bom, nos treinos de acrobacias, continuo me revezando entre portô e volante, e tenho aprendido muito, corrigido minimamente cada movimento, conhecendo mais sobre o meu corpo, sincronia com os colegas, eixo, confiança, etc. Essa semana também tivemos flexibilidade, aula que eu estava morrendo de saudades, muito treino de trampolim e mini-tramp, criação e movimentação. No Open Gym (momento em que o ginásio fica aberto para nossos treinos pessoais) de sexta-feira, experimentei um pouquinho de cada coisa que meus colegas propunham, duo trapézio, acrobacias, lira, mastro chinês... Ficamos, eu, Helen e Édio, para a aula de acrobacias de solo, que é a aula que eu mais gosto na semana, onde fizemos várias figuras de portagem e movimentação em duplas. Ao final dessa aula, estava sem nenhuma energia e morrendo de fome. Passamos no mercado e compramos pizzas. Belinha, Felipe (GforC 2016, membro da equipe de voôs) e Gabriel foram lá pra casa, onde comemos, tomamos caipirinhas denovo, e comemos brigadeiro de limão. Além disso, ficamos rindo, assistindo os vídeos de audição de cada um de nossos colegas. Foi um tempo de qualidade, e uma despedida sutil e marcante da minha passagem pela casa. Obrigada, galera! Pizza, caipirinhas, risadas e brigadeiro! Combinação perfeita!
Sábado pela manhã fiz minhas malas, almocei, me despedi de meus amigos e acolhedores com abraços longos e olhos marejados, e parti pra minha nova casinha. O Patrick, administrador aqui do Las Rocas, me recebeu também com muita simpatia e prestatividade. Me ajudou a levar as coisas pra cima, já que moro no quarto andar, então são quatro jogos de escadas pra subir as coisas (mais um treininho diário). Terminei de subir as coisas, respirei e morguei até umas 17hs, quando fui no mercado pra uma comprinha emergencial, já que a grana ficou bem curta agora. A noite fui ao Showcase no Circocan, e foi maravilhoso. Meus colegas Isa, Vic, Gabriel, e Mayla, arrasaram, com apresentações de lira, tecido, música, e tecido gota. Além disso, veteranos e professores arrasaram nas mágicas - Diogo Alvares -, e num misto de lira, acro e dança maravilhoso, além da corda lisa - Nick e Duh. (Amigos circenses, não é isto um sonho?!) Acabando, vim pra casa, de onde vos escrevo, e acabei por organizar todas as minhas coisas antes de dormir, acompanhada de uma Bud bem gelada. Ao final, estava satisfeita e feliz! Organizar minhas coisas sempre me faz um bem danado.
Tinha planos de ir à praia no domingo, mas acho que só fiz esses planos porque sabia que ia amanhecer friozinho. Esperei cair a chuva pra me convencer de que não dava pra sair. Afinal, nada melhor que um domingo frio com bebidas quentes e a minha casinha. Também estudei espanhol, enviei alguns interesses em trabalhos pontuais pra hostels, assisti mais dois episódios de Love na Netflix, e pesquisei movimentos cristãos pra conhecer por aqui. Assim foi mais um dia de reposição de energias. Acalmem-se, pois não vai ser assim sempre. Logo logo vou às trilhas, praias, barzinhos, etc, e vos escrevo aqui. Por enquanto, muitas adaptações. A noite, o pastor Tim e sua esposa Marta, indicações do Marcos Botelho pra eu conhecer, vieram me buscar em casa, para irmos à igreja que eles frequentam e são pastores auxiliares. A igreja se chama Cristo em Mim, ou Igreja Presbiteriana Independente do Estreito (http://www.cristoemmim.com/). O culto foi maravilhoso, fui muito bem recebida, com muitos abraços e olhares amorosos, tiveram músicas mais antigas, que me traziam várias emoções, e uma pregação incrível da Nicole (https://casasemlixo.com/), baseada em Gênesis, voltada à conscientização do papel da igreja em relação à proteção ambiental, e o amor de Deus para com a natureza e os animais. Mas o mais legal da noite foram as inúmeras conversas com o Tim e a Marta. Tim é pastor e teólogo, Marta vem de uma família musical. Tim foi professor do Marcos Botelho no seminário, Marta é irmã do Guilherme Kerr, músico muito conceituado na cena da música brasileira cristã. Os dois fazem a dieta paleolítica por questões de saúde, mas resolveram me levar pra comer uma pizza maravilhosa em um lugar de muito bom gosto na Beira Mar Norte. Ele, estadunidense, ela, de Campinas. Os dois tem três filhos. Ele surfa, e ela canta. Ele gosta de provolone, e ela de parmesão. São apenas alguns detalhes de toda uma história que eles compartilharam comigo, enquanto eu também compartilhava a minha, e eles ouviam, curiosos. Falamos sobre muita coisa, e eu me senti muito à vontade entre os dois. Cresço e me descubro a cada encontro. Agradeço a Deus por mais esse!
Bom, no meio do caminho já havia percebido que a frase inicial, que dizia faltar assunto para o texto, não era real. Não vou pedir perdão por isso, leiam, é legal! :)
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