Ainda estou engolindo água da sequência de caldos que 2019 me deu. Essa é a verdade. Estou terminando esse ano sendo curada, porque toda a dor que vivi me fez ver a vida de uma perspectiva que não consigo definir de outra forma que não seja "não tenho nada a perder".
Comecei o ano trabalhando com o esporte que aprendi a amar, convivendo com uma família que super me acolheu desde o meu último retorno à Rondonópolis. Conquistei a oportunidade de ser coach de crossfit, personal, responsável pela área de ginástica, e estava muito feliz com tudo isso, quando apareceu a oportunidade de trabalhar com adolescentes, estimulando o protagonismo juvenil, podendo usar a arte para mudar a vida dos mesmos, aproximando-os de suas melhores versões. Foi uma decisão difícil e importante, mas resolvi mergulhar nessa nova rota, entendendo como mais próxima do que eu sonhava pra minha vida a longo prazo. Foi uma experiência totalmente nova, principalmente, por estar vivendo, pela primeira vez, o ambiente corporativo de uma grande empresa.
No início do ano eu tive, enfim, a coragem de me "casar", morar junto, e quem me conhece, sabe o tamanho desse passo pra mim. Com menos de 2 meses - não posso dizer que descobri, pois ignorei minha intuição desde o início, de que estava indo por um caminho que não era meu -, sofri a pior dor e humilhação que nunca imaginei que sentiria na vida. Colhi o que jamais plantara. Chorei nos braços do meu pai e da minha mãe como uma criança, machucada tão profundamente e acolhida por eles da mesma forma.
Como o Pai não perde o controle de nada, eu já estava planejando há um tempo o meu presente de aniversário: uma viagem com direito a tudo o que gosto de viver. Participei da Bravus Race, uma corrida de obstáculos com a qual sonhava há um bom tempo, fui à praia, conheci uma das box de crossfit que mais gosto no Brasil, vi o Cirque du Soleil e fiquei na companhia de uma família que amo muito, treinando ninja, parkour, circo, todos os dias. Estar perto de mim e de coisas que amo, me relembrou quem eu sou, o que sonhava, e onde gostaria de chegar. Foi definitivo pra tomar uma decisão segura a respeito do meu "casamento", independente, inclusive, da dor causada. Por um tempo, morei sozinha na casinha maravilhosa, com suas árvores frutíferas e seu gramado, recebendo amigos, e sendo muito feliz!
Por motivos diversos, apesar dos grandes aprendizados e amizades que fiz, decidi por sair da nova empresa, e fiquei novamente sem uma perspectiva do que faria dali pra frente. Navegando em possibilidades, encontrei um curso de formação circense, oferecido por uma companhia sensível, criativa, e maravilhosa, em Goiânia. Embarquei dessa vez, sem pensar, seguindo a voz do coração e todos os sinais divinos de que era por ali o trajeto a partir daquele momento. Me despedi de Rondonópolis pela 324ª vez, como disse uma amiga, dessa vez, com o coração partido, de deixar tantos amigos e tamanho carinho que conquistei/recebi durante o tempo que estive ali.
Goiânia está sendo uma fase dura, estou tendo que aprender a sobreviver só, emocional, financeiramente, etc. Não está sendo fácil, mas tenho crescido absurdamente. Fiz grandes amigos, aprendi a dar mortal pra trás - e inúmeros outros truques e possibilidades corporais que não me imaginava capaz -, fui acolhida por uma família de fé inigualável, e tenho vencido medos todos os dias. Foi vencendo um deles que, infelizmente, me lesionei, vivendo novamente algo que nunca imaginara. Rompi um ligamento do joelho, tive que parar de fazer o que mais amo, treinar, e, mais difícil, tive que aprender a receber mais ajuda e, muitas vezes, depender de outras pessoas - pra uma pessoa que ama ser independente, isso é de fato um grande desafio -. Foi uma frustração gigantesca, na verdade, ainda está sendo, mas, novamente, um aprendizado de igual tamanho.
Resumindo, 2019 foi um ano tipo "corredor polonês", aquela brincadeira dos tempos de escola que a galera fazia duas filas, uma de frente pra outra, e você tinha que passar no meio, tentando levar menos porrada possível. Eu levei muitas porradas, ainda sinto dor e levo algumas mágoas, pois não sou de ferro, mas sou grata por cada situação e experiência. Sei que um dia eu vou entender o valor de cada uma delas na construção da minha história. Gratidão é a palavra sempre! Pode vir, 2020, não tenho nada a perder, estou pronta pra iniciar o ano mais forte e, por incrível que pareça, com o peito aberto, na confiança de quem luta por mim e me guarda com amor inexplicável. Graças a Deus pelos ciclos!