quinta-feira, 2 de abril de 2020

O tempo passa e você (também)


O tempo passa e você continua

Continua sendo o nome que me vem à cabeça quando penso no futuro
Continua sendo o dono dos cachos os quais quero percorrer com meus dedos
O sorriso que se abre de manhã quando lhe levo o café na cama (ao meio dia)
A risada solta cantando e tocando entre amigos, enquanto vejo se o bolo está no ponto
A razão de eu acreditar no amor romântico, pensando nas cartas que trocamos há tanto tempo
Continua sendo a ilusão que me faz caminhar

Se ainda vai ser qualquer coisa real, eu não sei
Eu nem espero mais nada
Mas eu gosto da sensação de ter uma história complicada
De te amar em segredo e te contar de vez em quando
Só pra te tirar dos trilhos e te fazer ficar sem graça, sem ação
Talvez seja só isso, mas e se não? E se for... amor?

Eu pagarei o tempo que for preciso, pra ver
Pode estar em qualquer lugar, e abraçado com qualquer pessoa
Mas só eu conheço teu coração, o som de seus pensamentos
E onde encontra paz quando se sente cansado
Eu sou o vento no seu rosto quando percorre a cidade com sua bike
E estou contigo quando fecha os olhos pra falar com Deus
Ou quando pára pra escrever – aliás, faz tempo não?!

Tudo bem se não existir mais eu e você
Porque o que foi, foi tão belo, e ainda me faz,
hoje, ter a certeza de um amanhã ainda mais belo
Tudo bem, não tem peso, e não tem pressão
Ou diminuição de qualquer parte
Tem voô livre, curioso, tem pouso e tem ninho
Se e quando você quiser, enquanto eu estiver vagando

Sou sua, mas não antes de ser minha
Sou dona da minha própria melancolia
Das idealizações que crio a cada dia
E tá tudo bem, sigo o baile
Tá tudo bem, você continua
E eu continuo também.

terça-feira, 25 de fevereiro de 2020

O amor ficou

O amor partiu
Com uma camisa de flores e botões por dentro da calça, cabelos escovados, óculos no rosto, ressaltando seus pequenos olhos azuis que contam tanta história
Depois de longos abraços e infinitos beijos de saudades

O amor veio
Veio também com uma camisa bonita por dentro da calça jeans, e uma bota preta nos pés
O amor passou os dias comentando sobre os prédios altos e a real possibilidade de haver tanta gente num lugar só
O amor não conheceu todos os meus parques favoritos, porque o amor gosta de estar em casa, e de tirar longos cochilos após o almoço
E tudo bem, o amor estava aqui
O amor compartilhou varias refeições, algumas com vinho, outras com cerveja
Comeu o franguinho do senhor da barraca da esquina, do qual eu faço propaganda desde que me mudei pra cá
O amor soube onde trabalho, onde estudo, e os lugares que frequento
O amor se sentiu em casa, preparou o chimarrão pela manhã e fez perguntas sobre os vizinhos
O amor permitiu que eu acariciasse seu rosto enquanto tirava os pelinhos que estavam fora do lugar em seu sobrancelha
Estes já haviam acabado faz tempo, mas eu não o deixei perceber, precioso o momento de lhe tocar o rosto com tanto carinho
O amor assistiu "ANNE WITH AN E" deitado no sofá do lado, e disse que "até que gostou" da série
O amor passeou com a Solara, brincou a beça e até deu-lhe uns tapas na buzanfa
O amor compartilhou um dia chuvoso em um hotel fazenda, fugindo da sauna, aprendendo a jogar sinuca, dormindo no carro (cochilo indispensável), e dando risada com o corpo molinho de caipirinha
O amor lavou meu tênis de barro, comprou remédios pra mim, que fiquei doente no seu último dia por aqui

O amor partiu
Eu vim dirigindo em calafrios literais, cheguei em casa e chorei sem parar, abraçada com a Solara, embrulhada no sofá
Deixei a luz do seu quarto acesa, pra ver se ainda sentia sua presença por ali
Tentei sentir seu cheiro na cama, mas por enquanto o nariz entupido de chorar não me permitiu

O amor veio
Trouxe uma alegria diferente, cuidado, confiança, sonhos novos, e orgulho de mim
Que bom que o amor passou por aqui
E ficou, do seu jeitinho
Deixou em segredo, no banheiro, um de seus 344 cremes corporais, aquele cujo cheiro me encanta, pra que eu não a sentisse longe
Obrigada, amor! Eu te amo!



domingo, 29 de dezembro de 2019

Como foi meu 2019

Ainda estou engolindo água da sequência de caldos que 2019 me deu. Essa é a verdade. Estou terminando esse ano sendo curada, porque toda a dor que vivi me fez ver a vida de uma perspectiva que não consigo definir de outra forma que não seja "não tenho nada a perder".
 
Comecei o ano trabalhando com o esporte que aprendi a amar, convivendo com uma família que super me acolheu desde o meu último retorno à Rondonópolis. Conquistei a oportunidade de ser coach de crossfit, personal, responsável pela área de ginástica, e estava muito feliz com tudo isso, quando apareceu a oportunidade de trabalhar com adolescentes, estimulando o protagonismo juvenil, podendo usar a arte para mudar a vida dos mesmos, aproximando-os de suas melhores versões. Foi uma decisão difícil e importante, mas resolvi mergulhar nessa nova rota, entendendo como mais próxima do que eu sonhava pra minha vida a longo prazo. Foi uma experiência totalmente nova, principalmente, por estar vivendo, pela primeira vez, o ambiente corporativo de uma grande empresa.

No início do ano eu tive, enfim, a coragem de me "casar", morar junto, e quem me conhece, sabe o tamanho desse passo pra mim. Com menos de 2 meses - não posso dizer que descobri, pois ignorei minha intuição desde o início, de que estava indo por um caminho que não era meu -, sofri a pior dor e humilhação que nunca imaginei que sentiria na vida. Colhi o que jamais plantara. Chorei nos braços do meu pai e da minha mãe como uma criança, machucada tão profundamente e acolhida por eles da mesma forma.

Como o Pai não perde o controle de nada, eu já estava planejando há um tempo o meu presente de aniversário: uma viagem com direito a tudo o que gosto de viver. Participei da Bravus Race, uma corrida de obstáculos com a qual sonhava há um bom tempo, fui à praia, conheci uma das box de crossfit que mais gosto no Brasil, vi o Cirque du Soleil e fiquei na companhia de uma família que amo muito, treinando ninja, parkour, circo, todos os dias. Estar perto de mim e de coisas que amo, me relembrou quem eu sou, o que sonhava, e onde gostaria de chegar. Foi definitivo pra tomar uma decisão segura a respeito do meu "casamento", independente, inclusive, da dor causada. Por um tempo, morei sozinha na casinha maravilhosa, com suas árvores frutíferas e seu gramado, recebendo amigos, e sendo muito feliz!

Por motivos diversos, apesar dos grandes aprendizados e amizades que fiz, decidi por sair da nova empresa, e fiquei novamente sem uma perspectiva do que faria dali pra frente. Navegando em possibilidades, encontrei um curso de formação circense, oferecido por uma companhia sensível, criativa, e maravilhosa, em Goiânia. Embarquei dessa vez, sem pensar, seguindo a voz do coração e todos os sinais divinos de que era por ali o trajeto a partir daquele momento. Me despedi de Rondonópolis pela 324ª vez, como disse uma amiga, dessa vez, com o coração partido, de deixar tantos amigos e tamanho carinho que conquistei/recebi durante o tempo que estive ali.

Goiânia está sendo uma fase dura, estou tendo que aprender a sobreviver só, emocional, financeiramente, etc. Não está sendo fácil, mas tenho crescido absurdamente. Fiz grandes amigos, aprendi a dar mortal pra trás - e inúmeros outros truques e possibilidades corporais que não me imaginava capaz -, fui acolhida por uma família de fé inigualável, e tenho vencido medos todos os dias. Foi vencendo um deles que, infelizmente, me lesionei, vivendo novamente algo que nunca imaginara. Rompi um ligamento do joelho, tive que parar de fazer o que mais amo, treinar, e, mais difícil, tive que aprender a receber mais ajuda e, muitas vezes, depender de outras pessoas - pra uma pessoa que ama ser independente, isso é de fato um grande desafio -. Foi uma frustração gigantesca, na verdade, ainda está sendo, mas, novamente, um aprendizado de igual tamanho.

Resumindo, 2019 foi um ano tipo "corredor polonês", aquela brincadeira dos tempos de escola que a galera fazia duas filas, uma de frente pra outra, e você tinha que passar no meio, tentando levar menos porrada possível. Eu levei muitas porradas, ainda sinto dor e levo algumas mágoas, pois não sou de ferro, mas sou grata por cada situação e experiência. Sei que um dia eu vou entender o valor de cada uma delas na construção da minha história. Gratidão é a palavra sempre! Pode vir, 2020, não tenho nada a perder, estou pronta pra iniciar o ano mais forte e, por incrível que pareça, com o peito aberto, na confiança de quem luta por mim e me guarda com amor inexplicável. Graças a Deus pelos ciclos!

quarta-feira, 23 de outubro de 2019

(.)

Para o bem ou para o mal

Para este ou aquele, como a chuva mexe comigo
Parece existir uma relação cósmica entre a chuva, meus hormônios, meu espírito
Se sou sensível ou se sou fraca, uma coisa é certa: como me sinto conectada
Como percebo todo o funcionamento de mim mesma observando-me diariamente
Sou parte, interajo em fluxo contínuo com o cosmos
Quando o corpo pede descanso, e a alma cansa de se enganar com tantos afazeres tentando cobrir o que se quer calar
Dos olhos escorrem a vontade de gritar e correr sem parar como se pudesse alcançar o fim de tudo
O estômago reflete o vazio, enjoando desse estado, fazendo-se presente
Como se estar nesse barco há tanto tempo, de repente, cansasse
Você pensa que se acostumou, mas você só deixou de pensar
E quando você volta seus olhos para os ondas novamente, sente o enjoô de viver
O pensamento, assim como as pernas e as roupas, vão de um lado para o outro
Vestem-se e despem-se, despedem-se, se analisam, se repreendem, e no final, tudo se (...) Abraça
Como se só restasse o pó, a náusea, o cansaço e a apatia como companhias
Porque de tanto pensar, e caminhar, e tentar achar soluções, uma hora a gente desfalece
De forma bruta, furtiva e inesperada, a força se vai, o corpo perde sustentação
O último fôlego de sanidade tenta conter a desistência em vão
Entrega-se a tudo aquilo que têm se evitado e luta contra tão bravamente

Mas é certo que, com a mesma bravura, voltará a brotar no dia seguinte, como se nada lhe tivesse ocorrido
Como se não houvesse vivido toda aquela tempestade em alto mar, e se cansado de viver
(Porque viver é mesmo essa náusea e essa vontade obsessiva de se entregar ao abismo, e não o fazer)
Como se não passasse de um delírio, em um plano paralelo aos carros e à fumaça, e ao trabalho, e à loucura do cotidiano
Percebe a morte em pensamento como um respiro de viver
A chuva agora refresca-lhe a garganta, a nostalgia fazendo pairar a alma dentro de si

segunda-feira, 30 de setembro de 2019

.ficou para o café


Quantas vezes eu achei que tinha encontrado o amor. E o tinha! O amor me beijou suavemente, o amor fez canções sobre mim, elogiou minha roupa, me ensinou a limpar o nariz, escreveu poesias sobre como via Deus em meus passos. Deitou na grama ao meu lado, olhando nos meus olhos, me arrebatou. O amor me inspirou e foi inspirado por minha paixão pela chuva. O amor não quis invadir uma história que não era sua, o amor me ensinou sobre rotina, e como os domingos sem planos poderiam ser os dias mais prazerosos da vida. Me ensinou a organizar as contas, e a cuidar do jardim. O amor me mostrou que de tudo eu sou capaz, posso ser o que quiser. O amor moveu o mundo e virou a cidade pra encontrar um sonho pra mim, de creme de baunilha. O amor dividia milk-shakes, enquanto ficava com a perna adormecida com todo o meu peso encima dela. O amor combinou um look peruano para arrasarmos no casamento de nossos amigos, e também quis que eu pulasse de paraquedas. O amor quis ouvir o que eu penso sobre a vida, e dividiu uma garrafa de vinho sob a luz das estrelas. O amor foi gentil, quis se apresentar para os meus pais, e até pediu a minha mão em casamento. O amor dividiu horas em ônibus, carros e aeronaves, em nossas viagens e descobertas. O amor me surpreendeu várias vezes, colocando faixas em meus olhos antes das surpresas para que eu entendesse o quanto era amada.  O amor me incluiu em seus planos, em sua família, em seu tempo, e em sua fé. O amor quis ser para sempre, outras vezes quis ser breve. O amor por tantas vezes aqui passou, deixando o cheiro suave de confusão e de esperança. Nunca se deixou pela metade, tampouco ficou mais do que podia. O amor já veio através de um olhar, e, no piscar do mesmo, se foi como brisa. O amor ficou para o café, ficou para o almoço, ficou correndo em minhas veias. Pois o amor nunca veio de fora, ele se mostrou essência minha através de outros corações. Ele despertou em mim o melhor e o pior que eu poderia ser. Mas despertou, deu força, deu vigor! Ele trouxe a mim sentido e forma, além de um otimismo bobo, que move meus olhos para cima, sem medo do que virá. O amor veio, ficou, se foi, voltou e continua aqui, a encher e esvaziar meus pulmões, permitindo-me a vida. A amanhecer em mim esse desejo de paz, de aconchego e de ação. O amor me ensina quem sou, todos os dias quando acordo. Me move a ser melhor em cada passo que dou, e tira o meu chão para que eu me lembre que não preciso ser só. O amor me fez inteira e parte de um todo no qual tenho papel fundamental. O amor faz transbordar em mim toda a vontade de que o resto do mundo se encontre, e o encontre também. O amor vem em pele e osso, vai em sorrisos e gentileza, vem em abraços, vai em expressão e poesia... O amor passa por mim, está em nós e tudo move. O amor ficou para o café, divide o tempo e olha dentro dos meus olhos.